Artigo publicado na Revista JC Maschietto ano 01, no 01, agosto/2003
Artigo: Pecuária Orgânica Prof. Dr. Claudio M. Haddad
Prof. Dr. do Departamento de Zootecnia da ESALQ/USP,
Piracicaba.
Mais do que um modismo passageiro, a Agricultura Orgânica,
e seu braço pecuário, refletem que a consciência da preservação
e a melhoria do meio ambiente encontram seu elo de ligação no
binômio produtor-consumidor.
A produção orgânica ou ecológica
alicerça-se na trilogia: economicamente viável, ambientalmente
sustentável e socialmente justo. O estrito respeito às leis ambientais
e trabalhistas, portanto, soma-se à procura do lucro, normalmente o único
objetivo da maioria das explorações pecuárias convencionais.
Recentes estudos de simulação revelaram que
as regiões mais propícias ao desenvolvimento da Pecuária
Orgânica, no Brasil, seriam o Pantanal, Pampas e Ilha do Marajó.
Nessas regiões, a produção é qualificada como sendo
“de dentro para fora”, com baixa utilização econômica
de insumos, e principalmente pequena resposta biológica aos mesmos. São
regiões basicamente de cria, onde o ecossistema se apresenta frágil
e há muito tempo contando com sistema de produção local
próximo do sustentável. Ainda nessas regiões, o crescimento
da pecuária é horizontal, pois o sistema de produção
não admite aumento de produtividade com sustentabilidade.
O mercado mundial de produtos orgânicos cresce a uma
taxa de 25% aa, ao passo que a produção agropecuária convencional
não ultrapassa 1% aa. No Brasil, vive-se um verdadeiro “boom”
de crescimento do mercado destes produtos, estimando-se em 50% no último
ano.
A busca de alimentos saudáveis com elevada segurança
alimentar, a preocupação com sistemas de produção
que não agridam o ambiente e a preocupação com o estrito
respeito à legislação trabalhista (justiça social)
são as principais razões que levam o consumidor à procura
de alimentos orgânicos.
Recente pesquisa de intenção de compra, realizada
com consumidores das classes A e B em uma rede de supermercados da cidade de
São Paulo, revelou que a principal razão para uma hipotética
aquisição de carne bovina orgânica seria a preservação
do ambiente em harmonia com o Sistema de Produção. Essa mesma
pesquisa revelou que o consumidor estaria disposto a pagar um adicional de até
20% sobre os preços da carne convencional.
Na Pecuária Orgânica é proibido o uso
de defensivos e adubos químicos; procura-se a maior utilização
dos recursos da pastagem (alimentação natural), restringindo o
uso de grandes quantidades de concentrado. Antibióticos utilizados como
aditivos alimentares, hormônios, promotores de crescimento e defensivos
químicos animais estão proibidosEstimula-se a produção
de fertilizantes orgânicos, o uso de leguminosas em consorciação,
pastagens arborizadas, uso da homeopatia animal e demais técnicas da
Agricultura Orgânica, coroando com a certificação final
do produto.
Atualmente, estima-se que mais de 120.000 reses estejam
em processo de conversão para o sistema orgânico de produção.
Como toda tecnologia em início de aplicação, não
há ainda escala suficiente para permitir grandes contratos e embarques
para exportação.
Os mercados europeu, japonês e norte americano, nessa
ordem, são os maiores consumidores de carne bovina orgânica do
mundo. O atendimento dessa demanda encontra uma natural diminuição
nas barreiras não tarifárias exercidas pelos importadores tradicionais
de carne convencional.
A nível interno, urge uma legislação
brasileira adequada para normatizar a produção e o comércio
de produtos orgânicos no mercado interno. O mercado externo há
muito tempo já reconheceu os aspectos positivos da Produção
Orgânica.